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O LIVRO DOS ORIXAS

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    quinta-feira, agosto 09, 2007

    1 - Introdução
    Na tentativa de descrever os aspectos que envolvem a ritualística da Umbanda, em sua expressão física e na sua formação como religião, é necessário retrocedermos à cultura religiosa das civilizações. Dos Maias aos Astecas, dos Incas ao Egito antigo, ou seja, nas bases que compuseram o início da civilização moderna em suas quatro ramificações, o homem vem tentando de diversas maneiras estabelecer e compreender o contato com a Energia Superior. Nas civilizações remotas, grandes avanços foram alcançados, de forma integralmente ligada ao ato religioso, nas áreas da astrologia, medicina e psicologia, entre outras. Muitos avanços também foram alcançados, como sabemos, através de imigrações, que contribuíram com a evolução ao longo do tempo através das expansões e trocas de costumes, religiosos ou não (por exemplo, o uso de ferramentas e as técnicas de agricultura).

    O fenômeno mediúnico sempre esteve ao lado do desenvolvimento psíquico do homem. Foi, então, através desse desenvolvimento e da busca constante do entendimento do Ser, que se formaram culturas religiosas diferentes, em pontos diferentes, acompanhando, é claro, a maturidade espiritual de cada grupo. A Umbanda, tendo a significação do próprio nome (Divino-Terra) associada à “arte de curar”, engloba uma rica assimilação da base que fundamenta a maioria desses segmentos religiosos na busca da cura. Sofrendo influências do oriente, do Egito antigo, da sabedoria dos africanos, da fé católica e da conscientização da doutrina espírita, a Umbanda objetiva propiciar a aproximação do Ser ao Criador, independente de sua formação religiosa. Sob supervisão espiritual e uma preparação superior, surge a Umbanda no Brasil, sendo um meio de esclarecimento e subseqüente evolução de vários cultos já existentes na época (como o Toré, o Tambor de Mina, a Mesa da Jurema, o Candomblé, o Candomblé de Caboclo, entre outros), levando vários de seus componentes a um novo contexto científico e religioso, no exercício da caridade.

    Na consciência de que só o estudo é capaz de esclarecer a alma, iniciamos essa pesquisa histórica sobre o surgimento da Umbanda e seus elementos constitutivos, no intuito de propiciar um melhor aproveitamento de nossos trabalhos e um enriquecimento de nossa bagagem espiritual.

    2 - Etimologia da palavra "umbanda"
    O estudo da formação do vocábulo “umbanda” ilustra, de certa forma, a origem e o desenvolvimento da tradição religiosa que hoje conhecemos no Brasil por esse nome. Conforme mencionado no 1° Congresso Brasileiro de Umbanda, em 1941, e confirmado posteriormente por estudiosos [1], o vocábulo “umbanda” foi formado pela união do radical sânscrito Aum com a palavra Bhanda, de mesma origem. Aum “(…) é o mistério dos mistérios; o nome místico da divindade, a palavra mais sagrada de todas na Índia, a expressão laudatória ou glorificadora com que começam os Vedas e todos os livros sagrados e místicos” [2]. A palavra Bhanda, por sua vez, significa “(…) laço, ligadura, sujeição, escravidão. A vida nesta terra.” [2].

    É provável que o intercâmbio entre os povos antigos da Índia e do Egito tenha permitido a chegada dessas palavras ao continente africano. Formou-se, assim, o radical mbanda na língua banta (abrangendo as regiões de Angola, Congo e Guiné). Esse radical penetrou na língua Quimbundo (também “Kimbundo” ou “Kimbundu”) da região de Angola e permitiu a formação da palavra umbanda, que passou a ganhar o significado de “arte de curar” [3]. Esse significado se relaciona às práticas religiosas e de tratamento de algumas tribos africanas; uma análise mais cuidadosa, no entanto, mostra-nos que ele também é associado ao significado original da união entre Aum e Bhanda; ou seja, a união entre o Divino e o Terreno, a ponte entre Deus e o Homem.

    Nas tribos africanas antigas, a compreensão dessa “ponte” dava aos homens o dom de curar os outros. No Brasil, no entanto, o termo Umbanda ganhou novo significado, pois passou a denominar uma prática religiosa e, acima de tudo, uma forma de trabalho em nome de Deus, visando a espiritualização do Ser através da consciência de sua realidade espiritual, do exercício da caridade, da prática do Amor. A essência do significado da palavra umbanda, no entanto, continua a mesma: a penetração da luz de Deus no coração do ser humano.


    [1] Bandeira, Cavalcanti. 1970. O que é a Umbanda. Editora Eco, Rio de Janeiro (daqui em diante, referido como Bandeira, 1970).

    Martins, Luiz Antonio. 2001. AumBandha: Fundamentos da Umbanda (vol. 1). Templo do Vale do Sol e da Lua, Maricá. (daqui em diante referido como Martins, 2001)

    [2] Blavatsky, Helena Petrovna (Glossário Teosófico) em Martins, 2001.

    [3] Quintão, José L. (Gramática de Kimbundo [p. 107]) em Bandeira, 1970.

    3 - Desenvolvimento Histórico Anterior ao Surgimento da Umbanda
    Entender a Umbanda em um contexto histórico-cultural é, em grande parte, entender sua natureza sincrética. Essa compreensão, por sua vez, nos propicia um entendimento mais profundo de sua essência filosófica, a qual reflete elementos que inspiram a união, a compreensão e a tolerância. Trataremos inicialmente de seu desenvolvimento histórico. Posteriormente, analisaremos em mais detalhes como esse desenvolvimento nos auxilia a compreender vários aspectos do papel da Umbanda como fonte de auxílio no processo de espiritualização da humanidade.

    O processo sincrético que deu origem à Umbanda no Brasil desenvolveu-se em etapas históricas que, apesar de não serem necessariamente isoladas temporalmente, serão classificadas e analisadas separadamente por propósitos simplesmente didáticos. Essa classificação se apoia, com algumas modificações, na nomenclatura e conteúdo do livro O que é a Umbanda (Bandeira 1970), ao qual remetemos o leitor com interesses mais profundos neste processo histórico.


    3a - Etapa Africana ou Básica
    Essa etapa representa o produto de influências de nações africanas nas tradições religiosas que se desenvolveram no Brasil. É importante notar, no entanto, que as “tradições religiosas das nações africanas” representam um grupo muito heterogêneo de crenças e rituais.

    A razão para isso é que a África, muito antes de ser uma fonte cultural para o Brasil, foi submetida à influência de povos orientais que a dominavam desde 900 aC. Assim, os escravos provenientes das nações africanas representadas no Brasil (Angola, Congo, Nagô, Malê, Queto, Banto, Inquimba, Hotentote, Malagaxe, entre outras) já trouxeram com eles elementos culturais e religiosos de vários outros povos. A proximidade geográfica das tribos africanas, as constantes guerras e invasões nessas regiões e seus subseqüentes intercâmbios lingüísticos e culturais resultaram na consolidação de um sincretismo nas culturas africanas. Dessa forma, ao chegar no Brasil a partir de 1530, as tradições africanas já apresentavam elementos de origem árabe (pano da costa), turca (figa), indiana (turbante, ojá), egípcia e semíticas (as duas últimas relacionadas aos conhecimentos de magia e à interpretação dos orixás como forças da natureza, sujeitas a um único Deus).

    A documentação histórica da fase de chegada de escravos africanos ao Brasil é muito difícil de ser estudada, visto que os africanos, tratados como mercadoria, não eram identificados por sua origem geográfica, mas sim pelo navio e pelo mercado que os comercializavam. Dessa forma, africanos de origens diversas eram trazidos juntos ao Brasil e, uma vez em território brasileiro, eram tratados de forma a minimizar uma identificação com suas raízes culturais. Além disso, indivíduos de vários graus de compreensão e iniciação religiosa passaram a interagir a seu modo, tentando recriar suas tradições da forma que podiam. Esses processos vieram a acentuar ainda mais a troca de elementos religiosos entre indivíduos de diferentes nações africanas, assim como também causaram uma perda ou modificação de muitos aspectos religiosos das várias nações africanas. Conclui-se, assim, que o sincretismo já se fazia presente nas tradições africanas desde a chegada dos africanos ao Brasil, mas que, uma vez em terras brasileiras, foi acentuado como resultado natural do processo histórico, político e cultural envolvendo a escravidão.

    Como podemos perceber, a imigração dos povos africanos ao Brasil, exatamente no período de sua colonização, já estava dentro de uma incrível programação pelo nosso querido Ismael para que o coração do mundo, pátria do Evangelho, tivesse em seu solo mais uma das culturas com um respeito admirável por Deus e pelas forças que controlam a natureza. Note-se também a enorme prática dos africanos na área da mediunidade e da cura, práticas que se fundiram, mais tarde, com a espiritualização já existente no âmago das tribos indígenas que se encontravam no Brasil. Nelas, o contato com os “mortos” era fato (especialmente através dos fenômenos mediúnicos desenvolvidos pelo pajé), bem como a crença em Tupã, Deus único.
    3b - Etapa Indígena
    Os africanos que fugiam da opressão dos colonizadores, principalmente os de origem banta, embrenharam-se nas matas formando os quilombos. Neles, os africanos ganharam uma liberdade relativa e puderam desenvolver uma identidade religiosa independente da que os colonizadores lhes impunham. Com a opressão imposta pela Igreja Católica, os africanos fugitivos se relacionaram facilmente com os indígenas, pois se encontravam em situações semelhantes. Assim, esses africanos—alguns dos quais com conhecimento religioso elevado—se identificaram com o que encontravam de semelhante nos cultos religiosos indígenas e os indígenas, por sua vez, passaram a ser influenciados pelos africanos. A sabedoria dos pajés foi assimilada às tradições africanas, que também passaram a usar ervas e utensílios brasileiros para substituir os elementos ritualísticos que não haviam podido levar da África para o Brasil.

    O culto aos antepassados, comum aos índios, possuiam algumas semelhanças com os cultos de origem africana. Trabalhos religiosos com aspectos africanistas passam, assim, a ser realizados nos terreiros indígenas. Em uma etapa posterior, essa mistura entre as tradições africanas e indígenas veio a originar formas de expressão religiosa que ganharam uma identidade própria, como a Cabula (de raiz banta [4] , representada pelos escravos oriundos de Angola, Moçambique e Congo), a Pagelança (do Amazonas ao Piauí), o Tambor / Tambor de Mina (Maranhão), o Toré (Alagoas), o Candomblé de Caboclo (Bahia), o Muçumuri (região Norte), a Macumba e a Quimbanda (Rio de Janeiro), o Batuque (região Sul), o Catimbó e o Xangô (Pernambuco).



    [4] Fonte: Almanaque Abril 1994
    3c - Etapa Européia
    A influência européia na construção de formas de expressão religiosa brasileiras é perceptível em duas áreas principais: na influência do catolicismo e da magia (“bruxaria”).

    A religião católica é, sem dúvida, um dos elementos mais importantes para a compreensão da cultura brasileira. Manipulando a religião para atingir objetivos políticos, o colonizador europeu impunha a prática do catolicismo aos negros e aos índios. Estes, por sua vez, passaram a fazer correspondências entre suas tradições e conceitos católicos, de forma a continuar em contato com suas raízes espirituais sem pôr em risco sua sobrevivência. Os exemplos mais claros desse sincretismo são as identificações de Tupi (para os índios) e Zambi (para os africanos) com “Deus”, e de orixás com santos católicos. Assim, por exemplo, o escravo passou a cultuar orixás através da imagem de santos católicos. O que os colonizadores não sabiam, no entanto, é que dentro ou embaixo dessas imagens os africanos colocavam os otis, pedras que representam os elementos da natureza associados aos orixás. Daí surgiram os termos “culto ao santo” e “povo do santo”. Analisaremos em mais detalhes, em outra parte de nosso estudo, a questão dos orixás na Umbanda. Cabe agora, somente, enfatizar que os orixás representam algo diferente dos santos católicos, e que a confusão entre eles que se faz hoje em dia é um resquício do sincretismo que o africano—e, no início do século XX, o umbandista—fez para não ser perseguido. A influência católica ainda é perceptível na Umbanda contemporânea através do uso do altar e de cerimônias em certas datas, como na sexta-feira santa.

    O segundo aspecto da influência européia na formação das tradições religiosas brasileiras se deu através da introdução dos conceitos de magia praticados pelos alquimistas e pelos “bruxos” e “bruxas”. Essas práticas, ao entrar em contato com as tradições dos cultos de nação, passaram a ser utilizadas e manipuladas por espíritos (encarnados ou não) controlados pelo ódio e pela mágoa, com o objetivo de prejudicar os outros, numa tentativa de “vingança” pela repressão sofrida no período da escravatura.

    Origina-se, assim, a Quimbanda. Esses trabalhos de magia passaram a ser feitos e desfeitos através da própria Quimbanda, mas a necessidade de espiritualização do Ser fez com que o Plano Maior desse à Umbanda o papel de desfazer trabalhos de manipulação de energia voltados para o mal [5].

    Na Umbanda, espíritos cientes dos mecanismos espirituais e energéticos envolvidos na “magia” passaram a trabalhar com a força do Amor, libertando os espíritos sofredores dos efeitos do ódio e direcionando espíritos ignorantes para o caminho de luz, de acordo com a Lei do Livre-Arbítrio. Esse trabalho foi sendo feito, naturalmente, de acordo com a maturidade espiritual dos grupos mediúnicos da época. Inicia-se, assim, uma grande cooperação entre espíritos de uma imensa falange, na luta pela evolução desses grupos mediúnicos. À luz do conhecimento do elevado planejamento desenvolvido por essa egrégora espiritual, entendemos por que os conhecimentos africanos, a bruxaria da Europa antiga e a fé católica imigraram para o Brasil ao mesmo tempo que a colonização.

    [5] Parte desse processo é ilustrado no livro “Loucura e Obsessão”, de Manuel Philomeno de Miranda (psicografado por Divaldo Pereira Franco).


    3d - Etapa Espírita
    O Espiritismo chega ao Brasil por volta de 1873, ou seja, poucos anos antes do fim oficial da escravatura no Brasil. Apesar de ser, inicialmente, praticado sobretudo por uma elite social de origem européia, o espiritismo influenciou de forma marcante os praticantes de cultos de origem africana e ameríndia, em sua grande parte pertencentes a outras classes sociais. Com uma base filosófico-doutrinária muito bem estruturada, o espiritismo contribuiu para a modificação de algumas formas de expressão religiosa que se formavam no Brasil através, principalmente, da introdução e/ou do esclarecimento sobre vários conceitos. Dentre eles, destacamos: (1) uma noção mais clara do que constitui a “vida espiritual”. Com ela, entende-se melhor a possibilidade de comunicabilidade dos espíritos e o papel de antepassados como espíritos protetores; (2) os conceitos de “carma” (ou a Lei da Causa e Efeito) e de reincarnação; (3) um esclarecimento sobre o fenômeno mediúnico (os termos “médium” e “reincarnação” originam-se no Espiritismo).

    É claro que nem todos os grupos de origem africana e/ou ameríndia adotaram esses conceitos. Até hoje, temos vários exemplos de grupos que, em níveis variados, tentam manter uma pureza de crenças e rituais que refletem suas origens. O exemplo mais claro é o candomblé, principalmente na Bahia, que se esforça em manter-se fiel às tradições, nas quais não se aceita a idéia de reincarnação, não se dá muito espaço à comunicação dos espíritos (‘eguns”) e se recorre à mitologia africana para interpretar os orixás. Analisaremos o candomblé, mais detalhadamente, em breve.

    Por outro lado, muitos grupos—que já adotavam aspectos africanos (gegê, nagô e banto), indígenas (caboclos) e católicos—passaram também a adotar idéias, práticas e conceitos espíritas em seus rituais e formas de expressão religiosa. Iniciam-se, assim, os trabalhos em terreiros onde espíritos de antepassados (ex-escravos, crianças, caboclos) começam a manifestar-se e onde passa a haver a invocação de espíritos considerados evoluídos (a noção de guia espiritual e de reincarnação também já existia nos cultos bantos). A prática da mediunidade faz-se um componente natural dos rituais. O santo católico passa a ser reinterpretado como um espírito protetor, apesar de sua associação com os orixás ser mantida, de forma paradoxal. Paralelamente, em um movimento histórico provavelmente relacionado à proclamação da República em 1889 (e, conseqüentemente, à formação de uma identidade nacional), muitos grupos passaram a fugir intencionalmente das tradições religiosas e ritualísticas africanas, que em muitos aspectos envolviam preceitos longos e complexos. Todos esses fatores passam a contribuir para uma reorganização da estrutura religiosa brasileira, na qual as tradições africanas e o candomblé “puro” passam, cada vez mais, a assimilar valores, crenças, características e rituais de outras origens, em um processo que contribui para a formação de várias formas de expressão religiosa com caráter essencialmente sincrético e identidade verdadeiramente brasileira.

    Nota-se, então, a extrema importância da introdução do espiritismo no ambiente religioso já existente em nosso Brasil, contribuindo para a transformação da consciência mediúnica acerca dos fenômenos. Foi assim que, por volta de 1930, a nossa Terra do Cruzeiro já contava com os componentes essenciais para a formação dos propósitos que o Brasil encerra na espiritualidade.
    3e - Etapa Ocultista
    Das etapas descritas acima, essa é a única que se iniciou após a Umbanda começar a ser reconhecida como prática religiosa de identidade própria. É a etapa em que a filosofia oriental e o esoterismo ganham espaço no incipiente movimento umbandista. A partir de cerca de 1930, algumas casas de Umbanda (principalmente no sul e sudeste do Brasil) passaram a utilizar conhecimentos trazidos dessas tradições, referentes ao uso de metais, cristais, numerologia e astrologia, entre outros. Também houve influência oriental no que diz respeito aos conceitos de aura, chacras, imantação (também adotados pelo espiritismo [6]), o uso do incenso, os pontos riscados, os banhos de descarrego e o reforço das noções sobre carma e reincarnação (que já haviam sido transferidos indiretamente dessas filosofias, através do espiritismo).

    A influência oriental na Umbanda pode ser interpretada, de certa forma, como um retorno às origens, uma vez que as grandes religiões—as quais se encontram nas raízes do processo histórico que resultou na Umbanda—têm sua origem no oriente, principalmente no antigo Egito, no Tibet, e na Índia, berços do profundo conhecimento religioso e da filosofia oriental. Fecha-se o círculo e surge a Umbanda—produto de concepções religiosas de muitos povos e nações, orientada pelos planos espirituais na busca da essência do Ser, atuando como produto de evolução de suas próprias fontes.

    Sendo assim, essa bagagem trazida do oriente despertou uma complexa realidade que envolve a existência do ser e o fenômeno mediúnico em si. Esse despertar se deu, dentre outras formas, através de uma melhor compreensão das ondas mentais e magnéticas, as quais temos o potencial de criar e com as quais constantemente interagimos, conforme explicado mais tarde por tantas obras psicografadas por nosso amigo, missionário Francisco Cândido Xavier.

    [6] Em O Livro dos Espíritos, nem Allan Kardec nem os espíritos tratam da questão dos centros de força eletro-magnéticos, formando nosso campo energético e os chacras. O espírito André Luiz, no entanto, traz esses esclarecimentos à tona posteriormente, em 1958.


    4 - A origem da Umbanda
    Como vimos, o surgimento da Umbanda no Brasil deu-se com a fusão das práticas, dos conceitos e das crenças dos povos africanos, europeus e ameríndios. Ainda não respondemos à seguinte pergunta, no entanto: quando e como iniciou-se, de fato, a Umbanda?

    Apesar de certos dados históricos disponíveis, é impossível determinar uma data e um momento exatos para o surgimento da Umbanda. Isso ocorre porque ela não é o produto da decisão de um homem na Terra, mas sim, fruto do planejamento, orientação e iniciativa de espíritos em planos elevados. Assim, além do fato de a Umbanda ter se desenvolvido dentro de um processo gradual, é bem provável que ela também tenha surgido de forma independente em diferentes grupos, se ajustando às características dos médiuns envolvidos. Relatos de pesquisas feitas entre 1890 e 1905 descrevem as características do ritual conhecido como Cabula, narrados pelo sacerdote católico D. João Corrêa Nery [7]. Cavalcanti (1970) considera esse como o primeiro registro histórico de um ritual com características semelhantes aos da prática da Umbanda. Vemos na Cabula elementos que a distinguem do Candomblé, predominante na época, e a assemelham à Umbanda, ainda não reconhecida como manifestação religiosa: uso de vestes brancas, o bater de palmas, pontos riscados, uso de médiuns e vocábulos como “cambone” e “enjira”, entre outros.

    Cavalcanti sugere que a palavra “cabula” tenha se originado de “cabala”, o que é justificável pelo indício de que conceitos de magia faziam parte dos rituais dessa prática religiosa. Faremos, posteriormente, um estudo mais aprofundado sobre a Cabala (estudada e praticada por remotas civilizações do oriente desde 6.000 anos a.C.) e sua influência nos pontos riscados (ou seja, cabalísticos) observados no ritual de Umbanda.

    Há evidências de que o nome “Umbanda” foi dado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas na cidade de Niterói, estado do Rio de Janeiro, para dar identidade própria à emergente manifestação religiosa que os espíritos apresentavam às terras brasileiras. É notável também o fato de que, durante esse período, pretos-velhos e caboclos já se faziam presentes em cultos “de nação” (candomblé) em alguns pontos do Brasil. A perseguição policial sofrida pelas práticas religiosas com raízes africanas resultou na relativa independência desses focos de manifestação de linhas de trabalho da Umbanda entre si e, conseqüentemente, em uma escassez de relatos históricos dos desenvolvimentos religiosos desse período. A maioria desses trabalhos eram realizados em porões de casas antigas e nas matas, distantes dos centros urbanos.

    Essa perseguição, conforme mencionado anteriormente, também foi um forte fator determinante da presença de altares com imagens católicas em núcleos de prática umbandista, debaixo dos quais escondiam-se otis e otás—com a chegada de policiais, todos se punham de joelhos em frente ao altar, simulando o cumprimento de novenas. Anexado ao final desse estudo, apresentamos, na íntegra, o relato da pesquisa feita por Lucília Guimarães e Eder Longas Garcia [8]. Nele, através de entrevistas com a família do médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, vemos a evidência acima mencionada de que em 15 de Novembro de 1908, na cidade de Niterói, foi declarado o surgimento da Umbanda. Também anexado ao final desse estudo, vemos o relato de Seu Sarapião, em comunicação através da mediunidade de Paulo Antônio Garcia. Nessa comunicação, Seu Sarapião apresenta uma ilustração do contexto histórico e cultural do Brasil na época em que a Umbanda surgiu, estabelecendo uma análise da resistência encontrada dentro do emergente movimento espírita (conforme descrito no relato mencionado acima).



    [7] Pode-se ler o relato completo em Cavalcanti, 1970 (páginas 69 – 75)

    [8] http://www.paimaneco.com.br/principal/umbanda_origem.phpl (Terreiro do Pai Maneco, Curitiba, Paraná; 2003)


    5 - O que caracteriza a Umbanda?
    Diversos grupos nos quais há fenômenos mediúnicos se auto-denominam (ou são identificados por pessoas de fora do grupo) como realizadores de trabalhos de “Umbanda”. Dentre esses grupos, encontramos alguns com trabalhos de caridade belíssimos e outros, por outro lado, nos quais as intenções são claramente divergentes daquelas que caracterizariam um trabalho de amor consciente e responsável que objetiva a espiritualização do Ser. Como a Umbanda foi criada por iniciativa de espíritos, os quais não apresentaram uma “doutrina” formal, e como há uma heterogeneidade enorme dentre os grupos denominados como integrantes do movimento umbandista, é natural que nos perguntemos: o que, afinal, caracteriza a Umbanda?

    Não cabe a nós, de forma alguma, julgar a natureza de cada grupo. Da mesma forma, não temos a menor pretensão de descrever um “estatuto” do movimento umbandista. Os dois objetivos centrais dessa seção de nosso estudo são (1) tentar descrever possíveis causas de variação na prática do ritual da Umbanda e (2) analisar o caráter mutável e dinâmico da prática da Umbanda. Fica subentendido que todos os trabalhos dos quais tratamos aqui são, independente da forma na qual são praticados, motivados única e exclusivamente pela intenção sincera de praticar a caridade e o amor ao próximo de forma pura e verdadeira, ou seja, desinteressada.

    Os fundamentos básicos de cada grupo de trabalho umbandista são, sem exceções, passados à equipe material (os médiuns) pelo espírito dirigente e responsável pelo trabalho. Na maioria das vezes, esse dirigente será um espírito que se expressa na forma de um caboclo. Os fundamentos (que abrangem a ritualística e a estrutura de cada trabalho) serão específicos para cada grupo, visto que sempre se ajustam ao propósito (ou seja, à forma de exercício de caridade) para o qual cada grupo de trabalhadores tem o compromisso e afinidade em servir.

    Vale notar que o propósito do trabalho, por sua vez, reflete a maturidade dos grupos envolvidos—tanto o grupo mediúnico quanto o grupo de pessoas que são atendidas. Esse propósito, a função, de cada grupo de trabalho de Umbanda não é, no entanto, o único fator responsável pela sua forma de expressão ritualística. A heterogenia do movimento umbandista é resultante de uma complexa interação de fatores históricos, culturais, sociais e de ordem prática. Os fatores de ordem histórica, cultural e social foram de forma sucinta abordados anteriormente, quando tratamos das origens da Umbanda. Os fatores de ordem prática se devem ao fato de que a Umbanda é uma expressão religiosa ligada diretamente ao fenômeno mediúnico e, assim sendo, sujeita às limitações e influências psíquicas dos médiuns (e, em especial, do pai-no-santo) e, ao mesmo tempo, às iniciativas de comunicação dos espíritos. Mais adiante, retornaremos à questão da influência mediúnica na prática da Umbanda.

    Conclui-se, assim, que a Umbanda é caracterizada em sua essência pela prática da caridade; em sua forma, ela é caracterizada por fundamentos e rituais necessários à prática eficiente da caridade de acordo com os propósitos, compromissos, maturidade e contexto histórico-sócio-cultural de cada grupo.

    Em muitos casos, mudanças que são observadas em trabalhos de Umbanda—em diferentes épocas, entre grupos ou dentro de um mesmo grupo—estão sob a supervisão e orientação de um planejamento do Plano Maior. Não é produtivo, perante nossos objetivos, tentar classificar uma forma de fazer e vivenciar a Umbanda como sendo “mais primitiva” ou não do que outra—não acreditamos que essa classificação e esse julgamento tragam nenhum benefício direto. Cabe, isso sim, a cada integrante de um grupo mediúnico, fazer-se o seguinte questionamento: “Estou fazendo o melhor que posso? Estou conduzindo ou participando dos trabalhos da maneira que melhor atende às necessidades do meu grupo de trabalho?” Essas meditações devem ser constantes e não visam a promover mudanças bruscas, mas sim, uma evolução, uma transformação lenta porém bem estruturada em propósitos nobres, para uma forma de trabalho condizente com o planejamento do Plano Maior para uma maior espiritualização do Ser. Essa mudança, essa transformação, cabe lembrar, será real se ocorrer no íntimo de cada um e não, necessariamente, na forma da prática da fé. Os espíritos semeiam o que estamos preparados para colher. Assim, a transformação na Umbanda é natural e reflete a evolução dos grupos—a Umbanda cresce junto com o crescimento moral das pessoas. Assim, conclui-se que a Umbanda tem a responsabilidade de se modificar.

    Por exemplo, já se pratica a Umbanda sem o uso de imagens de santos católicos para simbolizar orixás, como o resultado da consciência de que o orixá representa uma força da natureza—uma expressão da força Divina—e que, assim, o que melhor representa essa força são os próprios elementos da natureza. Da mesma forma, certos grupos de Umbanda já trabalham sem sacrifícios de animais, sem rituais de camarinha e sem outras observações oriundas da influência do candomblé. Ressaltamos, mais uma vez, que a forma, a ritualística característica a cada grupo de trabalho, não determina, em si, a qualidade nem o valor (medido no potencial de exercer o Bem) do trabalho. Essa forma é simplesmente um reflexo, uma exteriorização natural das crenças de cada grupo e do propósito no qual cada tipo de trabalho se enquadra.

    Ainda sob o tópico do potencial de mudança da Umbanda, mencionamos que o poder explanatório e iluminador da doutrina espírita, codificada por Allan Kardec, não deve ser subestimado. Com isso, não queremos dizer que os trabalhos umbandistas devam se transformar em trabalhos espíritas; simplesmente enfatizamos que os ensinamentos encontrados no Espiritismo têm o potencial de expandir o grau de consciência que o médium umbandista possui sobre o trabalho que ele ajuda a desenvolver. A Umbanda ainda desempenha um papel único no processo de espiritualização e evolução da humanidade e, em sua estrutura, reflete uma prática “com fundamento”, ou seja, que melhor se ajusta à sua função. Ao umbandista responsável e consciente, cabe sempre analisar essa estrutura de forma crítica, para poder praticar de coração aquela que seja mais congruente com seus propósitos e compromissos de prática da caridade.

    Umbanda é a prática da filosofia caritativa através do apoio na atividade mediúnica. Assim, se a mediunidade é apurada, melhorada, a Umbanda melhora sem perder a sua essência. As práticas umbandistas refletem a mensagem de que todos somos seres espirituais em uma escola material; o contato constante com o fenômeno mediúnico tem a finalidade de nos despertar para essa nossa verdadeira essência. À medida em que os médiuns compreendam a verdadeira mensagem que a Umbanda se propõe a transmitir, passa a ser inevitável que busquem a reforma íntima de forma consciente e intensa.


    6 - Considerações sobre o Candomblé dentro do contexto geral da prática da Umbanda
    Embora a Umbanda tenha no seu contexto ramificações da base de diversas religiões, não nos cabe entitular a Umbanda como uma “superação” ou “elevação” dessas religiões, sendo “melhor” do que elas em qualquer aspecto. Sabemos perfeitamente que cada religião tem o seu papel, de suma importância, na construção moral de um povo, religando-o com Deus.

    É comum ouvirem-se comparações em vários níveis entre a Umbanda e o Candomblé. Como vimos nesse estudo, a Umbanda difere-se do Condomblé em numerosos aspectos, dentre os quais citamos a ritualística e a maneira de entender e expressar a religiosidade. Isso, no entanto, não dá ao umbandista, de forma alguma, o direito de julgar-se superior ao praticante do Candomblé.

    Apesar das muitas diferenças, encontramos na Umbanda elementos do Candomblé, visto que este foi uma fonte de influência na estruturação da Umbanda [9]. Por outro lado, o Candomblé, tradição religiosa que se expressa de acordo com suas raízes africanas, apresenta comumente em seus terreiros a influência de espíritos que se expressam de forma característica da Umbanda, como caboclos, pretos-velhos e boiadeiros.



    [9] ver sessão 3.1.


    7 - A Umbanda, o Espiritismo e a interação entre diferentes tradições religiosas
    Nem a Umbanda, nem nenhuma expressão da prática da Lei do Amor, necessitam de justificativa e defesa perante os homens: sua defesa se encontra no trabalho para Deus e no exemplo que dá pelo respeito ao livre-arbítrio e às opiniões dos que não concordam com sua forma. Não nos cabe, nem é necessário, assim, justificar a existência da Umbanda, e esse não é o objetivo dessa parte do estudo. Desenvolvemos essa análise, no entanto, porque a prática da Umbanda dentro da Seara de Caridade Caboclo Tupinambá envolve estudos baseados em obras espíritas. Assim, é muito importante que os médiuns da Seara sintam-se à vontade com essa prática, estando cientes do valor que a interação entre tradições religiosas representa. Conforme os mentores da Seara nos esclarecem, a busca da fé raciocinada através de estudos baseados no espiritismo nos ajuda a desenvolver uma qualidade cada vez melhor de serviço ao próximo. Essa busca, quando visa a Verdade e é feita de forma sincera e humilde, engrandece o nosso potencial de praticar a caridade sem que nos desviemos da essência, da forma e dos propósitos específicos da Umbanda. Mesmo conscientes desse ideal, as interações entre estudos espíritas e práticas umbandistas podem gerar questionamentos. A análise que se segue objetiva, assim, promover um maior entendimento sobre o valor e o significado dessas interações. Antes, porém, transcrevemos abaixo algumas passagens que ilustram o tom com o qual abordamos esse tópico.

    “Pois tal como existem muitas partes em nossos corpos, assim também é com o corpo de Cristo. Todos nós somos parte dele, e cada um de nós é necessário para fazê-lo completo, porque cada um de nós tem um trabalho diferente a executar. Assim, pertencemos uns aos outros e cada um precisa de todos os demais” Romanos 12: 4,5

    “Será respeitável toda e qualquer crença, ainda que notoriamente falsa? Toda a crença é respeitável, quando sincera e conducente à prática do bem. Condenáveis são as crenças que conduzam ao mal (Livro dos Espíritos, questão 838)

    “Por que indícios se poderá reconhecer, entre todas as doutrinas que alimentam a pretensão de ser a expressão única da verdade, a que tem o direito de se apresentar como tal? Será aquela que mais homens de bem e menos hipócritas fizer, isto é, pela prática da lei de amor na sua maior pureza e na sua mais ampla aplicação. Esse o sinal por que reconhecereis que uma doutrina é boa, visto que toda doutrina que tiver por efeito semear a desunião e estabelecer uma linha de separação entre os filhos de Deus não pode deixar de ser falsa e perniciosa.” (Livro dos Espíritos, questão 842)

    “Fora da verdade não há salvação seria equivalente a fora da Igreja não há salvação e também exclusivista, porque não existe uma única seita que não pretenda ter o privilégio da verdade. Qual o homem que pode jactar-se de possuí-la integralmente, quando a área de conhecimento aumenta sem cessar e cada dia que passa as idéias são retificadas? A verdade absoluta só é acessível aos espíritos da mais elevada categoria e a humanidade terrena não pode pretendê-la, pois que não lhe é dado saber tudo e ela só pode aspirar a uma verdade relativa, proporcional ao seu adiantamento. Se Deus houvesse feito da posse da verdade absoluta a condição expressa da felicidade futura, isso equivaleria a um decreto de proscrição geral, enquanto que a caridade, mesmo na sua mais ampla acepção, pode ser praticada por todos. O Espiritismo, de acordo com o Evangelho, admitindo que a salvação independe da forma de crença, contando que a lei de Deus seja observada, não estabelece: Fora do Espiritismo não há salvação e, como não pretende ensinar ainda toda a verdade, também não diz: Fora da verdade não há salvação, máxima que dividiria em vez de unir e que perpetuaria a animosidade.” (Item 9, capítulo XV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec).

    “O Espiritismo não pode guardar a pretensão de exterminar as outras crenças, parcelas da verdade que sua doutrina representa, mas, sim, trabalhar por transformá-las, elevando-lhes as concepções antigas para o clarão da verdade imortalista. A missão do Consolador tem que se verificar junto das almas e não ao lado das gloríolas efêmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre, e revelando a verdadeira luz, pelos atos e pelos ensinamentos, o espiritista sincero, enriquecendo os valores da fé, representa o operário da regeneração do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em vários departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um só Mestre, que é Jesus-Cristo.” (pelo espírito Emmanuel, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, em “O Consolador”, página 200).

    "Não há separatividade nem competição entre os espíritos benfeitores, responsáveis pela espiritualização da humanidade" (Missão do Espiritismo - Ramatís - Liv. Freitas Bastos S.A. - psicografada por Hercílio Maes.)


    7a - Afinal, qual a melhor religião?
    O exercício intelectual do ser humano, necessário ao seu desenvolvimento espiritual, o conduz a classificar, conscientemente ou não, todas as informações que adquire. Esse processo de avaliação e subseqüente classificação de informações é natural. Em geral, no entanto, temos a tendência a julgar e dicotomizar os fatos, criando uma ilusão que passamos a chamar de “realidade”. Assim, muitos de nós, ao identificar uma religião na qual nos sentimos à vontade e com a qual temos afinidade, naturalmente a classificamos como sendo “a boa” ou “a melhor”, mesmo que racionalmente entendamos que todas as religiões são importantes. Conseqüentemente, outras formas de compreender a realidade passam a ser, de forma consciente ou não, classificadas por nós como “não sendo tão boas” ou “piores”. Essa classificação, no entanto, reflete uma incompreensão da essência de todas as filosofias religiosas (ou não) que promovem o amor e o bem.

    A compaixão, a tolerância, a paciência e a humildade são, em todas as filosofias que promovem o bem, virtudes que caracterizam o homem sábio, espiritualizado. De uma forma ou outra, essas virtudes são fruto da compreensão profunda de que cada indivíduo está em um processo único e belo de evolução, de encontro com Deus. Assim, a “melhor” religião ou filosofia de vida será relativa ao caminho, único, de cada um: o que é melhor para um não é, necessariamente, o melhor para o outro. Também resulta dessa compreensão o fato de que cada tradição religiosa na Terra tem a sua função no progresso da humanidade e merece, por isso, o carinho e o respeito de todos. Vale ressaltar que entender a importância de todas essas filosofias não deve nos levar a concluir que todas representam uma parcela idêntica da Verdade—reflexões sobre isso fazem parte do desenvolvimento espiritual de cada indivíduo. Mais importante, no entanto, é a compreensão geral de que todas representam simplesmente uma parcela da Verdade, pois, devido às nossas presentes limitações, nenhuma pode representar a Verdade em sua totalidade. Cabe a nós estudar, explorar e descobrir o que o diálogo entre as diferentes filosofias pode acrescentar a todos nós e, finalmente, perceber a direção de vida que a prática da essência da Lei do Amor, representada por diversas tradições religiosas, nos indica.

    A filosofia religiosa ou espiritualista que cada pessoa escolhe seguir é uma questão cultural, mas, acima de tudo, de afinidade. Por sua vez, a afinidade será sempre relacionada com uma necessidade específica para o desenvolvimento espiritual de cada um. Assim, a expressão de uma afinidade na encarnação de um indivíduo é um instrumento para a evolução desse indivíduo. Essa evolução pode ser canalizada para o estímulo intelectual, para o estímulo moral, para a execução de um resgate cármico e/ou para o cumprimento de um determinado compromisso. Conclui-se daí que a tradição religiosa que cada um escolhe seguir não se relaciona de forma alguma ao seu grau de evolução espiritual. É importante, assim, que nos desvencilhemos de preconceitos que nos levam a associar praticantes de determinadas tradições religiosas com pessoas com um grau maior ou menor de consciência espiritual. Uma pesquisa simples nos demonstra que, em todas as tradições religiosas, encontramos adeptos identificáveis como espíritos de muita luz e adeptos em estágios de consciência ainda bastante primários. A essência da Umbanda, como a de qualquer outra filosofia que promove o bem, nos indica que a expansão da consciência espiritual provém da experiência do amor incondicional—o que não impõe, não exige e não julga. Quando o praticante de Umbanda, Candomblé, Espiritismo, Catolicismo ou de qualquer outra religião, despertar para o seu potencial de se encontrar nos outros, amando a todos plena e verdadeiramente, não sentirá mais a necessidade da religião enquanto instituição, pois já estará, em seu íntimo, se religando a Deus.


    8 - A Função da Umbanda
    Em seu livro Going Home [10], Thich Nhat Hanh apresenta seus pensamentos sobre o valor da cultura religiosa de um indivíduo na sua busca pela Verdade através de tradições com as quais se tem menor familiaridade. Dessa forma, o referido autor assemelha cada indivíduo a uma planta, e o processo de busca a um transplante. Thich Nhat Hanh explica, assim, a necessidade do fortalecimento das raízes da tradição original, antes de qualquer mudança de crença ou tradição religiosa, para que o transplante seja bem-sucedido. O indivíduo que é apresentado a uma nova forma de expressão religiosa sem antes ter entrado em profundo contato com a forma que lhe é, naturalmente, mais familiar, possui mais dificuldades em assimilar a essência da religião que lhe é nova.

    A Umbanda, com sua expressão essencialmente sincrética, permite que pessoas de várias tradições religiosas fortaleçam suas raízes, enquanto, ao mesmo tempo, expandem a vivência da sua espiritualidade. Por trabalhar com elementos presentes em diferentes culturas e religiões, a Umbanda facilita que indivíduos oriundos das mais diversas culturas encontrem no terreiro algo com o que se identificam—sejam os componentes do altar, os rituais sincréticos ou as linhas de trabalho dos espíritos. Nesse aspecto, a Umbanda é uma prática de caridade que funciona como uma ponte através da qual indivíduos familiarizados com diferentes tradições podem atingir um nível mais complexo de auto-conhecimento e de consciência de sua realidade espiritual. O objetivo da Umbanda, mesmo tendo necessidade do ritual, é a espiritualização do ser, o despertar das almas. Sem a preocupação de recrutar seguidores e sem cobrar nem exigir nada em troca da caridade prestada, a Umbanda respeita todos os que escolhem não conhecê-la e abre o seu coração aos que por ela procuram, oferecendo a todos, indistintamente, uma oportunidade única e bela de espiritualização e aprendizado.

    Em uma etapa inicial, a Umbanda surgiu para propiciar aos encarnados a oportunidade de praticar e receber caridade através da mediunidade, independente de seu nível social, e para transformar ações mal-intencionadas em progresso, “desmanchando trabalhos” de magia negra. Cada vez mais, no entanto, a Umbanda vem se modificando e ampliando seu campo de ação, servindo, como mencionado acima, para a espiritualização de milhares de pessoas. Essa ampliação em seu campo de ação reflete o seu desenvolvimento dentro da programação espiritual para o planeta, bem como representa o processo de crescente espiritualização da humanidade, dos médiuns e dos grupos umbandistas. A Umbanda, e toda a complexa mistura que ela representa, vem servindo, já há quase 100 anos, de ponte para todas as religiões na descoberta de um Ser Espiritual, como a própria etimologia da palavra “Umbanda” nos indica. Através da Umbanda, nossos queridos pretos-velhos, caboclos e crianças nos apresentam que a vida no além é apenas uma passagem e vêm nos mostrar com humildade, simplicidade e pureza, a cada sessão, um exemplo vivo de que “fora da caridade, não há salvação”.

    [10] páginas 177-185


    Material Anexo I
    “Escrever sobre Umbanda sem citarmos Zélio Fernandino de Moraes é praticamente impossível. Ele, assim como Allan Kardec, foram os intermediários escolhidos pelos espíritos para divulgar a religião aos homens. Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de abril de 1891, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro.

    Aos dezessete anos, quando estava se preparando para servir as Forças Armadas através da Marinha, aconteceu um fato curioso: começou a falar em tom manso e com um sotaque diferente daquele da sua região, parecendo um senhor com bastante idade. A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após alguns dias de observação, e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu à família que o encaminhasse a um padre para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Procuraram, então, também um padre da família que, após fazer ritual de exorcismo, não conseguiu nenhum resultado.

    Tempos depois, Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente, Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "Amanhã estarei curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu a sua recuperação. Sua mãe, D. Leonor de Moraes, levou Zélio a uma curandeira chamada D. Cândida, figura conhecida na região onde morava e que incorporava o espírito de um preto-velho chamado Tio Antônio. Tio Antônio recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possuía o fenômeno da mediunidade e deveria trabalhar com a caridade.

    O Pai de Zélio de Moraes, Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de não freqüentar nenhum centro espírita, já era um adepto do espiritismo, praticante do hábito da leitura de literatura espírita. No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado à Federação Espírita de Niterói. Chegando na Federação e convidados por José de Souza, dirigente daquela Instituição, sentaram-se à mesa. Logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim, apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Tendo-se iniciado uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e simultaneamente diversos médiuns presentes apresentaram incorporações de caboclos e pretos-velhos. Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou: "Por que repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Seria por causa de suas origens sociais e da cor?" Após um vidente ver a luz que o espírito irradiava perguntou: "Por que o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados? Por que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuíta e a sua veste branca reflete uma aura de luz? E qual o seu nome, meu irmão?" Ele responde: "Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem saber meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim. "O vidente ainda pergunta: "Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?" Novamente, ele responde: "Colocarei uma condessa em cada colina que atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei."

    Depois de algum tempo, todos ficaram sabendo que o jesuíta que o médium verificou pelos resquícios de sua veste no espírito, em sua última encarnação, foi o Padre Gabriel Malagrida.
    No dia 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30, Neves, São Gonçalo, RJ, aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federação Espírita, parentes, amigos e vizinhos e do lado de fora uma multidão de desconhecidos. Pontualmente, às 20:00 horas, o Caboclo das Sete Encruzilhadas desceu e usando as seguintes palavras iniciou o culto: "Aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos-velhos africanos, que haviam sido escravos e que desencarnaram não encontram campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiçaria e os índios nativos da nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor, raça, credo ou posição social. A prática da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto, que tem base no Evangelho de Jesus e como mestre supremo Cristo".

    Após estabelecer as normas que seriam utilizadas no culto e com sessões diárias das 20:00 às 22:00 horas, determinou que os participantes deveriam estar vestidos de branco e o atendimento a todos seria gratuito. Disse também que estava nascendo uma nova religião e que chamaria Umbanda.
    O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras: "Assim como Maria acolhe em seus braços o filho, a tenda acolherá aos que a ela recorrerem nas horas de aflição, todas as entidades serão ouvidas, e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai."

    Ainda respondeu perguntas de sacerdotes que ali se encontravam em latim e alemão.

    O caboclo foi atender um paralítico, fazendo este ficar curado. Passou a atender outras pessoas que haviam neste local, praticando suas curas. Nesse mesmo dia, incorporou um preto-velho chamado Pai Antônio, aquele que, com fala mansa, foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes à mesa dizendo as seguintes palavras: "Nêgo num senta não meu sinhô, nêgo fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nêgo deve arrespeitá". Após insistência dos presentes fala: "Num carece preocupá não. Nêgo fica no toco que é lugá di nêgo". Assim, continuou dizendo outras palavras representando a sua humildade. Uma pessoa na reunião pergunta se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e ele responde: "Minha caximba, nêgo qué o pito que deixou no toco. Manda mureque buscá". Tal afirmativa deixou os presentes perplexos, os quais estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento de trabalho para esta religião. Foi Pai Antônio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da Tenda e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

    No outro dia formou-se verdadeira romaria em frente à casa da família Moraes. Cegos, paralíticos e médiuns que eram dados como loucos foram curados. A partir destes fatos fundou-se a Corrente Astral de Umbanda. Após algum tempo, manifestou-se um espírito com o nome de Orixá Malé, este responsável por desmanchar trabalhos de baixa magia, espírito que, quando em demanda, era agitado e sábio, destruindo as energias maléficas dos que o procuravam. Dez anos depois, em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, recebendo ordens do astral, fundou sete tendas para a propagação da Umbanda, sendo elas as seguintes: (1) Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; (2) Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; (3) Tenda Espírita Santa Bárbara; (4) Tenda Espírita São Pedro; (5) Tenda Espírita Oxalá; (6) Tenda Espírita São Jorge; (7) Tenda Espírita São Jerônimo. As sete linhas que foram ditadas para a formação da Umbanda são: Oxalá, Iemanjá, Ogum, Iansã, Xangô, Oxossi e Exu.

    Enquanto Zélio estava encarnado, foram fundadas mais de 10.000 tendas a partir das acima mencionadas. Zélio nunca usou como profissão a mediunidade, sempre trabalhou para sustentar sua família e muitas vezes manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais, que, segundo o que dizem, parecia um albergue. Nunca aceitara ajuda monetária de ninguém; era ordem do seu guia chefe, apesar de inúmeras vezes isto ser oferecido a ele.

    O ritual sempre foi simples. Nunca foi permitido sacrifício de animais. Não utilizavam atabaques ou quaisquer outros objetos e adereços. Os atabaques começaram a ser usados com o passar do tempo por algumas das Tendas fundadas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, mas a Tenda Nossa Senhora da Piedade não utiliza em seu ritual até hoje. As guias usadas eram apenas as determinadas pelas entidades que se manifestavam.

    A preparação dos médiuns era feita através de banhos de ervas e do ritual do amaci, isto é, a lavagem de cabeça onde os filhos de Umbanda afinizam a ligação com a vibração dos seus guias.

    Após 55 anos de atividade, entregou a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia, as quais até hoje os dirigem. Mais tarde, junto com sua esposa Maria Isabel de Moraes, médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo, fundaram a Cabana de Pai Antonio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macacú – RJ. Eles dirigiram os trabalhos enquanto a saúde de Zélio permitiu. Faleceu aos 84 anos no dia 03 de outubro de 1975.”


    Material Anexo II
    “As entidades que se manifestam são as entidades atraídas pelo campo espiritual da Casa e pelo compromisso espiritual da Casa. Toda entidade para se manisfestar ela tem que estar realizando alguma coisa dentro da Casa, atraída ou pelo próprio médium ou pela equipe espiritual da Casa.

    (Continuando a responder à pergunta que não ficou gravada, mas que se referia a nome e jeito de entidades) Cada entidade tem a sua personalidade. Cada espírito é um continente inexplorado, como dizia Emmanuel. A entidade se apresentou na mesa, ela vai produzir o trabalho dela, o nome é uma coisa que fica muito atrás do que ela vai produzir. O nome não deve ser nem perguntado. Vocês podem ouvir qualquer nome que fique confortável para vocês: Bezerra de Menezes ou José da Silva? Depende. Nós temos que ir na essência do trabalho porque todos nós estamos crescendo e, às vezes, um espírito desce e se chama João e passa uma mensagem baseada nos ensinamentos de Jesus e, às vezes, desce um espírito que se dá o nome de Aristóteles. Quer dizer, de João para Aristóteles, Aristóteles já é um nome mais requintado. E você passa a prestar atenção nesse Aristóteles. Tudo o que os espíritos falam deve estar baseado nos exemplos de Jesus. É por isso que vocês têm que estudar. Para não serem vítimas de espíritos brincalhões. Então, o Aristóteles está falando e você vê que ele se desviou um pouco do rumo.

    Dificilmente os espíritos revelam nomes, a não ser que vocês perguntem. Mas quando o espírito deixa transparecer que ele é a presença de um negro ou de um espírito mais do Brasil antigo, isso cria um certo preconceito na mesa Kardecista. Eu vou tentar ser rápido para não tomar o tempo de vocês e sem entrar em outro tipo de religião. Não vamos falar disso. Vamos nos concentrar no certo preconceito que muitas vezes é criado na mesa Kardecista.

    Quando a doutrina de Kardec chegou no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, naquele tempo, as senhoras dos senhores de engenho, dos políticos, dos governantes, iam a Paris passar as suas férias. Era comum irem a Paris passar as férias. Lá, elas tiveram acesso aos livros espíritas e começaram, então, a estudar a doutrina em pequenos passos. Não muito longe desse tempo se deu a abolição da escravatura.

    Fenômenos mediúnicos existem por toda a parte tanto naquela época como hoje. Em qualquer seita religiosa existe o fenômeno mediúnico. A cultura negra estava, então, saindo da senzala para continuar o mesmo trabalho. Eles não tinham oportunidade de estudo. E tinham aquele senso de inferioridade. Até hoje o racismo ainda é forte. Imaginem naquela época. Então, não podia ser concebido uma pessoa que estava lhe servindo na sua casa, sentar à mesa com você e estudar um livro que você trouxe da França. Um livro que as pessoas cultas possuíam. Não tenhamos raiva, quem sabe até de nós mesmos naquela época, mas era como eram as coisas na época. Os negros não eram vistos como pessoas. Então, também, era inadmissível que o espírito de um negro desse uma mensagem. Só podia ser um espírito inferior. Estão entendendo, filhos?

    Um dia, se uma entidade deixar transparecer que é o espírito de um negro, não misture ele com outras religiões. Se ele está passando a mensagem dele, você tem que estudar a mensagem. Caso não esteja de acordo não a considere. Essa é a essência. É isso que faz a diferença entre a mensagem de um espírito e de outro. O que distingue a diferença são as vibrações, é a nossa vibração, é a vibração de luz que você tem. Não é de aparências nem de nome.

    Aqui vêm espíritos não só de religiões africanas, porque vocês podem ter ligações do passado, certo tipo de aprendizado no passado e afinidades, mas aqui vêm religiões desde o islamismo até o hinduismo. Porque o espírito traz consigo as suas crenças e a sua maneira de entender o mundo. E vocês aqui são um campo de experiência, vocês aqui são um laboratório de Jesus. E é um convite para qualquer espírito que queira estudar o trabalho de vocês e que queira aprender com o trabalho de vocês.

    É claro que nós não vamos permitir que espíritos desçam e mudem o rumo do estudo. Nós respeitamos as individualidades, mas não é admissível que um espírito desça e mude completamente o rumo do estudo. Vocês estão estudando Kardec, mas a vida espiritual está aí, portanto, vocês lidam com espíritos de diferentes religiões. Vamos sempre na essência, não é, filhos? Na essência do amor. É o principal.

    Agora, temos que tomar cuidado com os espíritos. Você tem que está sempre analisando a mensagem, sempre. Isso começa do médium não é, filha? Fazendo a reforma íntima, estudando e vocês estão fazendo isso. Vocês estão de parabéns, vocês estão buscando. E busquem a cada dia a união entre vocês, busquem ver vocês como irmãos. Todos nós temos defeitos, mas nós estamos aqui para aprender uns com os outros. Não vamos julgar, vamos amar. Procurem ver vocês como um só. A equipe de vocês senta à mesa e nós somos um. Nós estamos aqui para aprender, nós estamos aqui para amar.”


    Material Anexo III
    Quantas foram as provas vivas, os ensinamentos, as confirmações de fé e esperança... Quanto amor e carinho de nossos amigos espirituais que tanto nos dão, sem nada nos pedir...

    Umbanda, que nos desperta a coragem para vencer as batalhas da vida, com seus cânticos, flores, essências, cores e magia da amizade e respeito mútuo—todo um cenário em que eu encontro com meu Eu, ao ouvir os tambores trazendo a vibração das selvas e senzalas, as músicas que nos elevam a alma. A cerimônia dos negros, o canto dos índios, os caminhos de Exu e Ogum, os jardins de Ibejada, as cachoeiras de Oxum, as pedreiras de Xangô, o vento de Iansã, o mar de Yemanjá e todos os elementos que a compõem nos ensinam a respeitar a natureza e o corpo em que vivemos.

    O café amargo e o cachimbo dos pretos-velhos, as penas dos caboclos, a capa de exu, a flor da pomba-gira, os doces de ibejê, o facão dos baianos, o punhal cigano—elementos que absorvem, manipulam e direcionam as mais belas energias. O sorriso da Padilha, o olhar sincero do cigano, as travessuras do Exu-Mirim, a seriedade de Seu Tranca-Ruas, a alegria do Martim, a sabedoria de Seu Pinga-Fogo, a mandinga do Chico-Preto, sempre equilibrando a sintonia da casa e representando a segurança a todo o momento e a toda hora, não se esquecendo do profundo conhecimento da psicologia humana, sempre nos orientando no melhor caminho. A simplicidade de Tupinambá, a meiguice do Vovô-do-Congo e a luz que brilha da Mariazinha, sempre nos trazendo o exemplo da trindade humildade-pureza-caridade; o amor com que a doutora nos trata com seus fluidos de saúde e paz, trazendo a força do oriente e os seus mais belos perfumes.

    Todos trabalhando com as suas forças e as forças da natureza—água, terra, ar, fogo, pemba, mandalas do ponto riscado, incensos, plantas, pedras e flores—visando única e exclusivamente o nosso desenvolvimento físico e espiritual, nos ensinando a cada dia a Lei do perdão e do amor.

    A essa Umbanda, quero me dedicar e com ela continuar o meu aprendizado. Me espanto em não conseguir explicar com palavras o nosso terreiro, mas nem teria sido possível escrever as linhas acima se não fosse a bondade e a perseverança do Dr. José Pelintra, que sem ver os nossos defeitos sempre esteve ali, nos amparando, ensinando e dirigindo.

    Agradeço a Deus pelo senhor, Seu Zé, pela felicidade de ter sua companhia; ou melhor, eu agradeço a Deus pela felicidade de participar dessa casa linda e de ter o convívio com essas pessoas maravilhosas que o senhor pôs no meu caminho. Permita que eu possa ser para cada filho do Seu Zé o que eles são para mim. Que Deus te ilumine, Seu Zé, por tudo e que a sua bênção caia sobre seus filhos!



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    posted by iSygrun Woelundr @ 10:08 AM   0 comments
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